quinta-feira, 18 de julho de 2013

CHEGA DE HIPOCRISIA!


Existe uma grande diferença entre pagarmos as nossas dívidas e remunerarmos capital privado.

Da mesma forma que todos nós temos que fazer uma gestão responsável do nosso orçamento familiar, um Estado também tem que procurar equilibrar as suas contas públicas, proporcionando aos seus cidadãos condições de vida e benefícios que se adequem às suas possibilidades. Até aqui perfeito. No entanto, não podemos passar a tratar um Estado Soberano como uma empresa. Os activos de um Estado são inqualificáveis e Portugal, se fosse uma empresa, teria um chamado 'Debt-to-Equity' inigualável! Não existe excesso de endividamento mas sim excesso do seu respectivo custo, o que não quer dizer que o Estado não deva ser gerido com prudência. 

Se baixarmos o custo do financiamento, equilibramos as contas. No actual contexto, isso não se consegue fazer via reformas, faz-se via intervenção institucional, ponto!

A questão é simples. A democracia não pode ser condicionada por interesses particulares! Um Estado nunca pode tornar-se refém da especulação ou seja, de investidores privados. A democracia, a contestação, a discordância, o impasse, a luta ou a voz do povo, não podem ser considerados factores de desestabilização, de descredibilização ou comprometedores de um determinado caminho ideológico. 

Um pequeno àparte: Para quem ainda acha que o cidadão português se endividou para níveis insuportáveis ao longo dos últimos 38 anos, devido à sua mentalidade consumista, preço esse que temos que pagar, algo que ouço permanentemente, que veja a evolução dos índices de poupança. Nunca as famílias pouparam tanto desde o 25 de Abril!!!! Menos uma desculpa...

Não se pode pedir a um povo que abdique das suas condições de vida com o mero propósito de remunerar melhor os nossos credores!

Façamos sacrifícios! Todos os necessários para que tenhamos um país forte. No entanto, a questão fundamental prende-se com quem os colhe. Todos têm que pagar esta crise, sem excepção. O povo, os credores do Estado e a própria União Europeia têm de pagar o preço de Portugal se ter de reequilibrar! Porquê? Porque a sua soberania assim o exige e porque se não pagarem esse preço hoje, pagarão um bem maior amanhã, pois esta política não cabe!!! Todos o sabem e daí a razão por se estar a substituir a dívida existente, passando-a para outras mãos, antes que se processe o perdão da mesma. 

Portugal continuará! E os seus protagonistas políticos não passarão de um ponto na linha da sua história. Eles próprios percebem isso e portanto, governam para garantir o hoje, governam para chegar ao próximo verão, governam para manter o 'status quo'...

Portugal não precisa nem da autorização da Alemanha, nem de um governo de salvação nacional! 

Portugal precisa de baixar o custo financeiro da sua dívida imediatamente! No entanto e enquanto estivermos dependentes dos mercados isso nunca vai acontecer, por muitos cortes que se façam, direitos que se retirem ou reformas que se consigam. 

O Financial Times diz que 40% da dívida portuguesa já é detida por bancos e seguradoras nacionais. Que tal começarmos por aí?

Temos portanto duas soluções: Ou a Europa cria um canal de financiamento para os seus países, como o Banco Central Europeu fez para os seus bancos e existem várias formas de enquadrar este financiamento (veja-se a reestruturação anunciada na passada semana, em obrigações de longo prazo de parte das responsabilidades irlandesas), ou então tragam as impressoras que eu prefiro sofrer as consequências de reconquistar a minha soberania, do que por um país inteiro de joelhos a trabalhar para os outros.

Se Portugal tivesse conseguido reduzir os juros da sua dívida para metade, o ano passado não tinha tido défice.

E contrariamente ao que se pensa, Portugal tem mais do que poder suficiente para o conseguir, sem ferir susceptibilidades e sem comprometer as instituições. Basta que os outros continuem a fazer o seu papel e que os nossos governantes comecem a fazer o deles, fazendo valer os nossos interesses...

Existe uma grande diferença entre pagarmos as nossas dívidas e remunerarmos capital privado.





sexta-feira, 5 de julho de 2013

SÃO COMO BANDOS DE PARDAIS À SOLTA!



Como consequência dos eventos dos últimos dias, devo confessar que Passos Coelho subiu consideravelmente na minha consideração. Com intervenções públicas claras, objectivas e coerentes, fez o que se esperava de um comandante determinado, 'lúcido' e irredutível. Disse o que tinha a dizer ao país, elevando-se perante a neblina ministerial que o rodeava, foi ao beija-mão como lhe era exigido e voltou decidido a terminar o que começou, não cometendo o erro de não passar 'Cavaco' a ninguém.  Apesar de ser evidente que algo se passa de grave, conseguiu que o barco não fosse ao fundo, hasteando agora todas as suas velas ao vento, esperando que uma brisa vinda dos deuses europeus o ajudem a dobrar o cabo das tormentas lá para os fins de Outubro. Quanto a Passos, estamos conversados...

O facto de toda a imprensa portuguesa se ter focado quase exclusivamente na demissão de Paulo Portas, relegando para segundo plano a renuncia do que era até então o nº 2 do governo e para muitos o homem imprescindível deste capítulo governativo, deixa-me verdadeiramente surpreso e muito preocupado.

O Paulo Portas ministro tomou uma decisão em consciência e afastou-se. Certo que a sua decisão não augura nada de bom, mas também não é mais do que isso. 

O Paulo Portas líder do CDS torna-se irrelevante em toda esta história, pelo simples facto de, contrariamente ao que muitos nos querem fazer querer, Paulo Portas não tem sentido de estado suficiente para por os superiores interesses do país acima dos seus interesses pessoais. O mesmo se passa com o CDS, que tem a perfeita noção que quando sair deste governo, agora ou no fim do mandato, não volta para lá tão cedo. Não existe portanto e a meu ver, nenhum risco de quebra na coligação existente. Gostam todos demasiado do pote para o pôr de lado. Isto é valido para governo e oposição. Resumindo e concluindo, na minha modesta opinião, todo este assunto Paulo Portas, não passa de uma cortina de fumo.

O que me preocupa verdadeiramente é a saída de Vítor Gaspar. Curiosamente, parece-me que poucos pararam para pensar nos seus verdadeiros motivos. Se forem como eu, muito dificilmente acreditam que se afastou devido ao facto de não haver condições sociais e políticas para continuar a implementar as suas 'reformas'. Algo estará para vir que em seu entender, põe em causa a sua credibilidade e consequentemente comprometer o tão ambicionado regresso aos órgãos centrais de gestão europeia, como o 'arquitecto da austeridade', exímio teórico e herói da elite económica, tão injustamente contrariado por uma qualquer instancia judicial menor e pelas inconvenientes vicissitudes das democracias maduras. 

Parece-me que Vitor Gaspar abandonou o seu capitão, levando com ele os registos de navegação e quem sabe a 'caixa negra', antes do pedido do segundo resgate e do colapso generalizado não só deste governo, mas também da credibilidade das instituições internacionais que o governam. 

Tenha-se a opinião que se tiver sobre o rumo que o país deva tomar, há algo que me parece evidente. Esta Europa não oferece saída a Portugal, nem pré, nem durante, nem pós TROIKA. Isto já era verdade no anterior governo, é verdade neste e será verdade no próximo, a não ser que quem venha esteja na disposição de pregar um valente 'susto' aos países ricos desta união (que hoje de união tem pouco), aos mercados (controlados por um pequeno grupo de especuladores com muito dinheiro) e que do alto do seu orgulho lusitano, tenha como primordial missão, abalar as próprias fundações que sustentam o mundo ocidental como o conhecemos!