segunda-feira, 14 de novembro de 2011

QUEM DEVE O QUÊ A QUEM?



                                                         



Não resisto em partilhar este texto! Esta é exactamente a razão pela qual o problema europeu não tem concerto!
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Há algum tempo, foi publicada , na revista, Stern uma "carta aberta" de um cidadão alemão, WalterWuelleenweber, dirigida a "caros gregos", com um título e sub-título:

Depois da Alemanha ter tido de salvar os bancos, agora tem de salvar também a Grécia.

Os gregos, que primeiros fizeram alquimias com o euro, agora, em vez de fazerem economias, fazem greves



Caros gregos,

Desde 1981 pertencemos à mesma família.

Nós, os alemães, contribuímos como ninguém mais para um Fundo comum, com mais de 200 mil milhões de euros, enquanto a Grécia recebeu cerca de 100 mil milhões dessa verba, ou seja a maior parcela per capita de qualquer outro povo da U.E.

Nunca nenhum povo até agora ajudou tanto outro povo e durante tanto tempo.

Vocês são, sinceramente, os amigos mais caros que nós temos.

O caso é que não só se enganam a vocês mesmos, como nos enganam a nós.

No essencial, vocês nunca mostraram ser merecedores do nosso Euro. Desde a sua incorporação como moeda da Grécia, nunca conseguiram, até agora, cumprir os critérios de estabilidade. Dentro da U.E., são o povo que mais gasta em bens de consumo

Vocês descobriram a democracia, por isso devem saber que se governa através da vontade do povo, que é, no fundo, quem tem a responsabilidade. Não digam, por isso, que só os políticos têm a responsabilidade do desastre. Ninguém vos obrigou a durante anos fugir aos impostos, a opor-se a qualquer política coerente para reduzir os gastos públicos e ninguém vos obrigou a eleger os governantes que têm tido e têm.

Os gregos são quem nos mostrou o caminho da Democracia, da Filosofia e dos primeiros conhecimentos da Economia Nacional.

Mas, agora, mostram-nos um caminho errado. E chegaram onde chegaram, não vão mais adiante!!!

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Na semana seguinte, Stern publicou uma carta aberta de um grego, dirigida a Wuelleenweber:



Caro Walter,

Chamo-me Georgios Psomás. Sou funcionário público e não "empregado público" como, depreciativamente, como insulto, se referem a nós os meus compatriotas e os teus compatriotas.

O meu salário é de 1.000 euros. Por mês, hem!... não vás pensar que por dia, como te querem fazer crer no teu País. Repara que ganho um número que nem sequer é inferior em 1.000 euros ao teu, que é de vários milhares.

Desde 1981, tens razão, estamos na mesma família. Só que nós vos concedemos, em exclusividade, um montão de privilégios, como serem os principais fornecedores do povo grego de tecnologia, armas, infraestruturas (duas autoestradas e dois aeroportos internacionais), telecomunicações, produtos de consumo, automóveis, etc.. Se me esqueço de alguma coisa, desculpa. Chamo-te a atenção para o facto de sermos, dentro da U.E., os maiores importadores de produtos de consumo que são fabricados nas fábricas alemãs.

A verdade é que não responsabilizamos apenas os nossos políticos pelo desastre da Grécia. Para ele contribuíram muito algumas grandes empresas alemãs, as que pagaram enormes "comissões" aos nossos políticos para terem contratos, para nos venderem de tudo, e uns quantos submarinos fora de uso, que postos no mar, continuam tombados de costas para o ar.

Sei que ainda não dás crédito ao que te escrevo. Tem paciência, espera, lê toda a carta, e se não conseguir convencer-te, autorizo-te a que me expulses da Eurozona, esse lugar de VERDADE, de PROSPERIDADE, da JUSTIÇA e do CORRECTO.

Estimado Walter,

Passou mais de meio século desde que a 2ª Guerra Mundial terminou. QUER DIZER MAIS DE 50 ANOS desde a época em que a Alemanha deveria ter saldado as suas obrigações para com a Grécia.

Estas dívidas, QUE SÓ A ALEMANHA até agora resiste a saldar com a Grécia (Bulgária e Roménia cumpriram, ao pagar as indemnizações estipuladas), e que consistem em:

1. Uma dívida de 80 milhões de marcos alemães por indemnizações, que ficou por pagar da 1ª Guerra Mundial;

2. Dívidas por diferenças de clearing, no período entre-guerras, que ascendem hoje a 593.873.000 dólares EUA.

3. Os empréstimos em obrigações que contraíu o III Reich em nome da Grécia, na ocupação alemã, que ascendem a 3,5 mil milhões de dólares durante todo o período de ocupação.

4. As reparações que deve a Alemanha à Grécia, pelas confiscações, perseguições, execuções e destruições de povoados inteiros, estradas, pontes, linhas férreas, portos, produto do III Reich, e que, segundo o determinado pelos tribunais aliados, ascende a 7,1 mil milhões de dólares, dos quais a Grécia não viu sequer uma nota.

5. As imensuráveis reparações da Alemanha pela morte de 1.125.960 gregos (38,960 executados, 12 mil mortos como dano colateral, 70 mil mortos em combate, 105 mil mortos em campos de concentração na Alemanha, 600 mil mortos de fome, etc., et.).

6. A tremenda e imensurável ofensa moral provocada ao povo grego e aos ideais humanísticos da cultura grega.


Amigo Walter, sei que não te deve agradar nada o que escrevo. Lamento-o.

Mas mais me magoa o que a Alemanha quer fazer comigo e com os meus compatriotas.

Amigo Walter: na Grécia laboram 130 empresas alemãs, entre as quais se incluem todos os colossos da indústria do teu País, as que têm lucros anuais de 6,5 mil milhões de euros. Muito em breve, se as coisas continuarem assim, não poderei comprar mais produtos alemães porque cada vez tenho menos dinheiro. Eu e os meus compatriotas crescemos sempre com privações, vamos aguentar, não tenhas problema. Podemos viver sem BMW, sem Mercedes, sem Opel, sem Skoda. Deixaremos de comprar produtos do Lidl, do Praktiker, da IKEA.

Mas vocês, Walter, como se vão arranjar com os desempregados que esta situação criará, que por ai os vai obrigar a baixar o seu nível de vida, Perder os seus carros de luxo, as suas férias no estrangeiro, as suas excursões sexuais à Tailândia?

Vocês (alemães, suecos, holandeses, e restantes "compatriotas" da Eurozona) pretendem que saíamos da Europa, da Eurozona e não sei mais de onde.

Creio firmemente que devemos fazê-lo, para nos salvarmos de uma União que é um bando de especuladores financeiros, uma equipa em que jogamos se consumirmos os produtos que vocês oferecem: empréstimos, bens industriais, bens de consumo, obras faraónicas, etc.

E, finalmente, Walter, devemos "acertar" um outro ponto importante, já que vocês também disso são devedores da Grécia:

EXIGIMOS QUE NOS DEVOLVAM A CIVILIZAÇÃO QUE NOS ROUBARAM!!!

Queremos de volta à Grécia as imortais obras dos nosos antepassados, que estão guardadas nos museus de Berlim, de Munique, de Paris, de Roma e de Londres.

E EXIJO QUE SEJA AGORA!! Jr ao lado das obras dos meus antepassados.

Cordialmente,

Georgios Psomás

terça-feira, 27 de setembro de 2011

terça-feira, 9 de agosto de 2011

EUROPA DESMANTELA-SE PERANTE O OLHAR INCRÉDULO DO MUNDO!


Hoje, para mim, ficou claro! A Europa não tem concerto. Por uma simples razão: a Europa não quer! Não porque não goste de ser Europa, mas sim porque não está disposta a fazer os sacrifícios necessários para se manter como Europa!

Este problema não se resolve com medidas de contenção orçamental, redução da taxa de juro de referência, compra de dívida no mercado secundário por parte do BCE ou com o reforço do Fundo de Resgate.

Para quem ainda não percebeu, dar sinais positivos ao mercado não serve de absolutamente nada. Os mercados estão-se nas tintas para os desequilíbrios dos países ou para a sua capacidade de recuperação. Os mercados testam os modelos. E como o modelo é fraco, o mercado está a encostá-lo à parede, a ver se ele parte.

Não é difícil obrigar um país a entrar em default. Se vos aumentassem o spread do empréstimo à habitação para o dobro, conseguiriam pagá-lo? E para o triplo? Um país não é diferente. Esse é aliás o grande "pau de dois bicos" para a Alemanha. Para a Europa financiar a Europa, a dívida individual tem que passar a ser segurada por todos. A Alemanha tem de deixar de pagar 3% pela dívida que lá tem e isso, convenhamos... é chato! 

A meu ver, temos neste momento três soluções possíveis, da mais provável para a menos provável:

- Emissão de "eurobonds";
- A criação de um euro 2 mais fraco;
- A saída da Alemanha da moeda única.

Primeiro, as "eurobonds" têm de ser aprovadas nos parlamentos nacionais, o que me parece quase impossível. Segundo, a criação de um euro 2 implica uma acção concertada dos "PIGS" com os restantes estados membros para uma saída assistida, um perdão das suas dívidas, provavelmente superior a 40%, regras para o controlo da taxa de juro e e fixação de bandas no câmbio entre as duas moedas. Além disso, demoraria a implementar, visto que seria preciso dar tempo às instituições financeiras para provisionarem as suas dívidas, e tempo é o que os mercados não dão. Terceiro, a saída da Alemanha do Euro só aconteceria se fosse forçada, pelos restantes países, a tomar alguma decisão mais drástica contraria aos seus interesses específicos. Ora, não me parece que isso suceda, antes que tudo o resto (leia-se Itália e seu arrastão) se desmorone!

Portanto, que nem profeta do povo, sentado no cais das colunas a beber uma alegre mini, digo-vos:

O euro vai partir!

quarta-feira, 27 de julho de 2011

UNDER PRESSURE


Agora sim, parece-me que na Europa se vai ter de começar a discutir... a Europa!

Desde que se iniciaram os problemas financeiros na EU até hoje, se é que já não o era antes, temos tido uma Alemanha a decidir e uma Europa a promologar. Independentemente da opinião de cada um, que me parece pouco relevante neste debate, a verdade é que para a maioria não fazia mal que assim fosse, pois estávamos a falar da (in)viabilidade de países que não representavam muito no "big picture" da coisa.
A Alemanha tem procurado adiar o problema europeu o mais possível, com o apoio natural da França e com a conivência dos outros grandes, num comportamento típico de "com o mal dos outros, posso eu bem". A estratégia tem, a meu ver e do ponto de vista alemão, sido bem montada... até agora.

No entanto, o governo alemão ainda não percebeu que já não está a falar nem para Portugal, nem para a Grécia, nem para a Irlanda. Neste momento, as não decisões ou até a prepotência demonstrada em determinadas posições anteriores, já não afectam grandemente estes três países. No entanto, começam a pôr gravemente em cheque a Espanha, a Itália e se calhar brevemente, a própria França.

Hoje o ministro das finanças alemão veio dizer que o seu país não está disposto a passar um cheque em branco para as "eurobonds". Foi o suficiente para deitar por terra o pouco que se tinha conseguido na última cimeira. Consequência.... Os juros da dívida italiana e espanhola dispararam, bem como o valor das CDS que as seguram. Onde é que já vi este filme? No entanto, a grande diferença reside no facto de os interpretes terem mudado e portanto o guião não poderá ser o mesmo.

Enquanto parece que, os gregos têm um problema informático e portanto não conseguem fazer contas (consta que adjudicaram o "primavera"), os bancos irlandeses emprestaram o PIB da Grande Bretanha, colateralizado nas ovelhas e pinheiros que abundam no interior do seu país e os portugueses gostam demasiado de bons carros, "smartphones" e férias no nordeste brasileiro, os novos protagonistas  não se parecem compadecer com tais excentricidades (denote-se o meu tom irónico). No entanto, confrontam-se repentinamente com a perspectiva de poderem vir a tomar do "xarope", que têm andado a comercializar com tanta competência: Sintoma: risco financeiro; Posologia: austeridade com fartura; Efeitos secundários: colapso económico.

Não sei quais serão a suas reacções às declarações do Sr. Wolfgang Schauble, mas parece-me que não se vão fazer esperar. Suspeito que os italianos farão chegar, rapidamente e entre linhas, o recado aos alemães, que eles não mandam na Europa. No entanto, "old habits die hard".

Portanto, parece-me que estão reunidas as condições para que rapidamente se encontre uma verdadeira solução para o modelo de funcionamento europeu. Ou isso ou estamos perante o embrião de uma nova guerra civil. Quero acreditar na primeira.

Agora só temos que pensar na melhor forma de convencer os 70% dos alemães que são a favor do regresso ao marco e os quase 65% que já não vêm utilidade em pertencer à zona euro. Mas enfim, uma coisa de cada vez. Certamente, mudarão de ideias....

terça-feira, 19 de julho de 2011

TROIKA-ME ISSO POR MIÚDOS!


Infelizmente e como todos já percebemos, a vinda da Troika não acalmou nada nem ninguém, vai custar-nos os anéis todos e talvez um mindinho ou outro. Difícil de aceitar é o facto de nos sujeitarmos a isto sem que ninguém garanta que o problema fica resolvido. Pior de tudo, não o fazem porque já todos perceberam que não resolve mesmo...

Por outro lado, a Alemanha e mais dois ou três compinchas apresentam os níveis de desemprego mais baixos dos últimos vinte anos e um crescimento económico de louvar em tempos tão difíceis! Gente competente é outra coisa! O BCE, não vá isto sobre aquecer com tanto crescimento, vai aumentando a taxa de juro. 

E como tudo vai bem no condado da "Merkolândia", vamos ao prognóstico:

Vamos mexer em tudo para que fique tudo na mesma. Por um lado, há muito dinheiro a ganhar e só agora, com os reforços da Espanha e Itália para esta temporada, é que se vai jogar a "Champions". Por outro, temos que dar tempo aos bancos para provisionarem estas dívidas, senão ainda se arranja para aqui um problema e isso já deixa de ter piada.

O meu palpite para campeão de inverno é surpreendentemente, a Alemanha... e se lhe deixarem, provavelmente a jogar sozinha! Afinal de contas, a bola parece que é deles e se não fôr assim, ninguém brinca!  

Pequeno aparte: O facto de Portugal só agora ter acordado para uma revolta conjunta contra a Moody's e companhia, incomoda-me. Se demorarem tanto tempo a reagir no que respeita aos acontecimentos que se avizinham, temo que a Europa corra o sério risco de ser considerada competente em relação aos seus "timings"! 

QUANTO VALE A INFORMAÇÃO?



No que toca à Europa e no que concerne esta gritante falta de visão estratégica, apetece-me citar Gabriel Pensador:

"Quanto tempo você vai levar... porrada, porrada! Quanto tempo vai ficar sem fazer nada!?

Quem me atura de vez em quando, a mim e a mais dois ou três camaradas da luta, em esporádicas tertúlias que pretendem resolver todos os problemas do universo, antes de ver o fim à garrafa de Jameson, sabe que o que se está a passar hoje na Europa já tinha sido previsto por este reconhecido grupo de "bi-dentes" há muito tempo.

Hoje vamos fazer perguntas...

Afinal, para que serve tanta austeridade?

O que vai pagar todo este encaixe financeiro (Troika/impostos extraordinários)?
Qual o peso relativo dos juros da dívida, nas contas do estado? Não encontro dados disponíveis.

Afinal, que parte destes sacrifícios vão para cobrir défices estruturais e que parte vai remunerar os abutres especuladores e seus comissionistas, leia-se, os donos da dívida portuguesa e seus derivados?

Porque é que nos estão a obrigar a vender empresas que dão lucro? O que os leva a pensar que há quem queira comprar empresas que dão prejuízo? Essas empresas não são nossas? Se as vendermos agora, quanto nos vão pagar por elas? Esse dinheiro serve para amortizar dívida directamente ou para pagar juros e custos correntes? Se as venderem todas agora, o que fica para vender amanhã?

Quanto aumentou a dívida portuguesa, por ano, desde 2008 e em quê? Que parte teve directamente a ver com o peso do estado? Que parte era dívida bancária directa ou indirecta? Quanto foi emprestado com o nosso aval e a quem?

Qual o valor pago em juros em 2010? Esse valor é menor ou maior que o défice apresentado?

Quem são os donos da dívida portuguesa? A quem é que pagamos esse dinheiro?

Quanto custa em percentagem do PIB, o SNS, a SS e a educação? Quanto custa a energia que importamos?

Com tanto debate televisivo e bitaiteiro, presumia-se que toda esta informação já fosse do domínio público... mas não é.

O que me leva a fazer a pergunta de todas as perguntas:

Quanto vale esta informação?

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Viva a Internet - "A melhor banda do mundo"

Esta música faz-me feliz! O facto de ser totalmente amador e estar a ter um sucesso brutal com mais de 6.300.000 visitas, deixa-me satisfeito! Espero que gostem também!

http://www.youtube.com/watch?v=QW0i1U4u0KE&feature=share

terça-feira, 28 de junho de 2011

LET'S TANGO, YOU & I



"Out of the night that covers me,
Black as the pit from pole to pole,
I thank whatever gods may be
For my unconquerable soul.


In the fell clutch of circumstance
I have not winced nor cried aloud.
Under the bludgeonings of chance
My head is bloody, but unbowed.


Beyond this place of wrath and tears
Looms but the Horror of the shade,
And yet the menace of the years
Finds and shall find me unafraid.


It matters not how strait the gate,
How charged with punishments the scroll,
I am the master of my fate:
I am the captain of my soul."


Nelson Mandela - "Invictus"

terça-feira, 14 de junho de 2011

OPINIÃO: “Scholes means goals.”



Aqui vai o Link para o novo espaço do meu amigo Pedro Mota no site "O Relvado".

Para quem gosta de bola... artigos semanais a não perder.

OPINIÃO: “Scholes means goals.”

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Message from Portugal to Finland



Absolutamente brilhante!! Mais do que um vídeo para os finlandeses, penso que deve ser visto por todos os portugueses para que possamos devolver a nós próprios o orgulho de fazermos parte desta enorme nação.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

NÃO HÁ DUAS SEM TRÊS


Parece-me que os rapazes do FMI e da TROIKA aprenderam com os erros cometidos na ajuda à Grécia e Irlanda. O pacote, apesar de ser duro, acabou por ser bem menos severo do que se esperava inicialmente.

Por um lado entendo as motivações das partes. A TROIKA já percebeu que convém que se estimule a economia qualquer coisinha para verem algum e o Sócrates quer ganhar as eleições. No entanto, penso que se perdeu uma boa oportunidade para ir mais longe.

Como sabem, sempre defendi que a crise, até agora, tinha sido verdadeiramente sentida por poucos. Daqui para a frente e nos próximos anos, especialmente a partir de 2012, acho que a malta vai toda começar a perceber ,na pele, o significado da palavra. Não vamos deixar de comer, mas alguns maus hábitos vão ter que acabar.

Arrumada a questão portuguesa, vamos ver para onde se viram as atenções. Ainda há muito dinheiro para ser ganho nesta crise e os mercados, bem como o FMI, andam atentos. Espero que a próxima vítima europeia, para além de aprender com a situação da Grécia e Irlanda, aprenda com os erros da nossa classe política em todo este processo.

Confirmou-se portanto o ditado, não há duas sem três! Antes este que o outro!

quarta-feira, 20 de abril de 2011

PROPOSTA INDECENTE - POWER TO THE PEOPLE


Ultimamente tenho ouvido desde políticos, comentadores, analistas, especialistas, colunistas, comentadores de bancada a sofistas de balcão de taberna, a opinar sobre toda esta problemática que nos aflige e confesso que a sensação com que fico é que estão todos com um "piquinho a azedo"! Em tom de brincadeira, tenho uma proposta a apresentar.

Então e se fizessemos isto ao contrário! Em vez de andarmos a lutar por manter o máximo de direitos possíveis para todos, passávamos a responsabilidade de tudo isto para cada um de nós isoladamente. A minha teoria é a seguinte:



Quem da 100.000 milhões dá 200.000 milhões! É tudo uma questão de preço!


O Estado retirava todos os benefícios sociais à população, durante os próximos três anos e entregava a cada português €10.000,00 para fazer a sua própria gestão desse dinheiro.

A partir desse momento, o Estado tornava-se superavitário e deixava de precisar dos mercados, criando as condições para que o mesmo pudesse começar a tomar medidas que estimulássem a economia e fomentássem o crescimento. A partir daqui, acabavam-se os problemas da dívida do Estado Português.

A ser assim, cada um de nós garantia antecipadamente o equivalente aos benefícios retirados, pagando um juro muito baixinho, claro, e passava a ser livre de fazer o que quisesse com esse dinheiro, mediante algumas regras, naturalmente, como por exemplo, o pagamento atempado de todos os seus impostos. Assim, criávam-se "mini portugais" em cada português e o Estado passava a comportar-se como uma espécie de FMI interno.

Com o dinheiro que recebia, cada português teria três opções: consomir, poupar ou investir. No final de cada ano, o estado veria o que cada um fez com esse dinheiro e avaliaria o risco, ou seja, a capacidade individual de cada um honrar os seus compromissos. Com isto, cada português passaria a ter o seu próprio "rating". Os portugueses que cumpriram as suas obrigações e que estivessem a gerar valor para si mesmos, passariam a gozar de incentivos que promovessem o seu crescimento. Os que não cumprissem com as suas obrigações, veriam as suas condições revistas/agravadas e passariam a estar sujeitos a restrições na sua despesa.

Ao fim de três anos, fazia-se o balanço e apurava-se o que cada português tinha feito com esse dinheiro.


Quem estivesse falido ou "em default", deixaria de poder votar! 

segunda-feira, 18 de abril de 2011

UP UP AND AWAY!

O Governador do BCE Luc Coene, veio hoje dizer que "...estamos perante o fim do contágio [da crise de dívida soberana europeia], uma vez que os outros países tomaram medidas para se protegerem. Penso que isto é, realmente, o fim da história".

Não sei se é verdade, espero que seja. No entanto, recordo-me "vagamente" do seu antecessor ter dito em tempos, que a Grécia seria o único país da UE a necessitar de resgate. Acho que estes senhores ainda não perceberam que o que está verdadeiramente a ser posto à prova não são as contas dos países membros, mas sim a moeda única e o próprio modelo da União Europeia.

Contrariamente ao Luc, temo que possamos estar somente a meio do livro e que esta história terá ainda mais capítulos do que certamente todos desejaríamos.   

Curiosamente, da reunião de hoje entre o Banco Mundial e o FMI, saiu a conclusão de que podemos estar à beira de uma iminente crise mundial, impulsionada pelo custo das matérias primas.

Eu sugiro o seguinte:

Ladies and Gentleman, please keep your seat belts fastened during take off and landing!

sexta-feira, 15 de abril de 2011

PARA MAIS TARDE RECORDAR E SE POSSÍVEL NÃO REPETIR!

O que podemos esperar e o que nos vai acontecer, agora que garantimos a ajuda externa?

Como todos sabem, o que o FMI faz quando intervém num país é provocar uma recessão, no nosso caso agravar a existente. Normalmente, utiliza a moeda e a taxa de juro como instrumentos fundamentais. Acontece que neste caso não tem, nem um, nem outro para brincar. Portanto, as medidas impostas centrar-se-ão nos custos e receitas do Estado.

Em primeiro lugar, os principais partidos vão chegar todos a acordo sobre uma espécie de PEC 4 + 1 a implementar, para que seja possível começar a receber os primeiros financiamentos. Portugal aumentará a sua dívida em 80 mil milhões de euros e ficará a pagar uma taxa de juro sobre esse valor próxima dos 6%, mais do que estava a pagar quando ia ao mercado a 5 anos, antes da rejeição do PEC 4.

As medidas a aplicar, todas elas contraccionistas, claro, provocarão uma estagnação económica e provocarão uma recessão que se instalará para ficar, durante uns bons anos. Tudo isto será sustentado por um custo social pesadíssimo, provocado pela implementação de medidas imediatas e transversais que deveriam ser faseadas no tempo.

O Estado será obrigado a congelar tudo o que é investimento público de grande porte. Começará a alienar tudo o que for empresa Estatal, reduzindo a intervenção do Estado na economia ao mínimo possível, colocando esse interesses nas mãos dos de sempre, tornando tudo isto muito mais caro para todos, deixando cair definitivamente o conceito da maximização do benefício social e pondo o povo a pagar aos novos accionistas os lucros que essas empresas vão passar a apresentar.

O desemprego aumentará para perto dos níveis espanhóis, o salário mínimo irá ser reduzido, os despedimentos ficarão mais fáceis e mais baratos e as pensões na melhor as hipóteses serão congeladas, no entanto prevejo que possam ser sujeitas a cortes nos escalões mais altos. Os impostos irão aumentar, tornando tudo mais caro enquanto ficamos com menos para gastar. O tecido empresarial, composto na sua larga maioria por PME´s, sofrerá mazelas que deixarão marcas irreversíveis e com isso agravará todos os efeitos anteriores.

Paralelamente, os bancos vão ser obrigados a aumentar os seus rácios de liquidez, não vão ter capacidade para o fazer sozinhos e portanto, vão pedir dinheiro emprestado ao Estado. As agências de rating vão aproveitar este facto para rever em baixa os ratings desses bancos. Consequentemente, pelos compromissos estabelecidos com os bancos e aliado ao facto da economia começar a decrescer, baixarão o rating de Portugal mais 2 ou 3 níveis. Com isso, todos terão mais dificuldade em se financiar, comprovando este espiral infernal, de onde parecemos não conseguir sair.


Portanto, o consumo irá cair, o investimento irá cair, os gastos do Estado irão cair e portanto o nosso PIB andará pelas ruas da amargura.

Ironicamente e em jeito de perfeita aberração económica, tudo isto se passará enquanto assistimos aos aumentos da inflação e das taxas de juro de referência!!!! Enfim...
Não posso deixar de aproveitar esta oportunidade para agradecer a todos os que colaboraram para tornar tudo isto possível!

Como nota positiva, resta-me o consolo de saber que, por um lado Portugal não deixará de existir e que tudo isto será história daqui a uns anos e por outro que, não acabando Portugal, não acabará o meu Benfica!

quinta-feira, 14 de abril de 2011

WHO'S LINE IS IT ANYWAY?

Há muito que digo que esta crise não é um problema Português. Independentemente de terem sido cometidos alguns erros no passado e de haver hoje a necessidade de implementar diversas medidas, nos mais diversos sectores da nossa sociedade, a grande verdade é que mesmo implementando todas elas, corremos o sério risco de não ver o nosso problema resolvido. Mas e que problema é esse? Essa é a pergunta que vale um milhão de dollares. Andamos a atacar o verdadeiro problema, ou as consequências do mesmo? 

Publico aqui um artigo do New York Times, a meu ver brilhante, e com o qual concordo em absoluto. Recomendo vivamente a sua leitura. Para mim foi uma verdadeira golfada de ar fresco!


João Fazenda


Portugal’s Unnecessary Bailout

By ROBERT M. FISHMAN
Published: April 12, 2011
·          PORTUGAL’S plea for help with its debts from the International Monetary Fund and the European Union last week should be a warning to democracies everywhere.
The crisis that began with the bailouts of Greece and Ireland last year has taken an ugly turn. However, this third national request for a bailout is not really about debt. Portugal had strong economic performance in the 1990s and was managing its recovery from the global recession better than several other countries in Europe, but it has come under unfair and arbitrary pressure from bond traders, speculators and credit rating analysts who, for short-sighted or ideological reasons, have now managed to drive out one democratically elected administration and potentially tie the hands of the next one.
If left unregulated, these market forces threaten to eclipse the capacity of democratic governments — perhaps even America’s — to make their own choices about taxes and spending.
Portugal’s difficulties admittedly resemble those of Greece and Ireland: for all three countries, adoption of the euro a decade ago meant they had to cede control over their monetary policy, and a sudden increase in the risk premiums that bond markets assigned to their sovereign debt was the immediate trigger for the bailout requests.
But in Greece and Ireland the verdict of the markets reflected deep and easily identifiable economic problems. Portugal’s crisis is thoroughly different; there was not a genuine underlying crisis. The economic institutions and policies in Portugal that some financial analysts see as hopelessly flawed had achieved notable successes before this Iberian nation of 10 million was subjected to successive waves of attack by bond traders.
Market contagion and rating downgrades, starting when the magnitude of Greece’s difficulties surfaced in early 2010, have become a self-fulfilling prophecy: by raising Portugal’s borrowing costs to unsustainable levels, the rating agencies forced it to seek a bailout. The bailout has empowered those “rescuing” Portugal to push for unpopular austerity policies affecting recipients of student loans, retirement pensions, poverty relief and public salaries of all kinds.
The crisis is not of Portugal’s doing. Its accumulated debt is well below the level of nations like Italy that have not been subject to such devastating assessments. Its budget deficit is lower than that of several other European countries and has been falling quickly as a result of government efforts.
And what of the country’s growth prospects, which analysts conventionally assume to be dismal? In the first quarter of 2010, before markets pushed the interest rates on Portuguese bonds upward, the country had one of the best rates of economic recovery in the European Union. On a number of measures — industrial orders, entrepreneurial innovation, high-school achievement and export growth — Portugal has matched or even outpaced its neighbors in Southern and even Western Europe.
Why, then, has Portugal’s debt been downgraded and its economy pushed to the brink? There are two possible explanations. One is ideological skepticism of Portugal’s mixed-economy model, with its publicly supported loans to small businesses, alongside a few big state-owned companies and a robust welfare state. Market fundamentalists detest the Keynesian-style interventions in areas from Portugal’s housing policy — which averted a bubble and preserved the availability of low-cost urban rentals — to its income assistance for the poor.
A lack of historical perspective is another explanation. Portuguese living standards increased greatly in the 25 years after the democratic revolution of April 1974. In the 1990s labor productivity increased rapidly, private enterprises deepened capital investment with help from the government, and parties from both the center-right and center-left supported increases in social spending. By the century’s end the country had one of Europe’s lowest unemployment rates.
In fairness, the optimism of the 1990s gave rise to economic imbalances and excessive spending; skeptics of Portugal’s economic health point to its relative stagnation from 2000 to 2006. Even so, by the onset of the global financial crisis in 2007, the economy was again growing and joblessness was falling. The recession ended that recovery, but growth resumed in the second quarter of 2009, earlier than in other countries.
Domestic politics are not to blame. Prime Minister José Sócrates and the governing Socialists moved to cut the deficit while promoting competitiveness and maintaining social spending; the opposition insisted it could do better and forced out Mr. Sócrates this month, setting the stage for new elections in June. This is the stuff of normal politics, not a sign of disarray or incompetence as some critics of Portugal have portrayed it.
Could Europe have averted this bailout? The European Central Bank could have bought Portuguese bonds aggressively and headed off the latest panic. Regulation by the European Union and the United States of the process used by credit rating agencies to assess the creditworthiness of a country’s debt is also essential. By distorting market perceptions of Portugal’s stability, the rating agencies — whose role in fostering the subprime mortgage crisis in the United States has been amply documented — have undermined both its economic recovery and its political freedom.
In Portugal’s fate there lies a clear warning for other countries, the United States included. Portugal’s 1974 revolution inaugurated a wave of democratization that swept the globe. It is quite possible that 2011 will mark the start of a wave of encroachment on democracy by unregulated markets, with Spain, Italy or Belgium as the next potential victims.
Americans wouldn’t much like it if international institutions tried to tell New York City, or any other American municipality, to jettison rent-control laws. But that is precisely the sort of interference now befalling Portugal — just as it has Ireland and Greece, though they bore more responsibility for their fate.
Only elected governments and their leaders can ensure that this crisis does not end up undermining democratic processes. So far they seem to have left everything up to the vagaries of bond markets and rating agencies.

Robert M. Fishman, a professor of sociology at the University of Notre Dame, is the co-editor of “The Year of the Euro: The Cultural, Social and Political Import of Europe’s Common Currency.”