quarta-feira, 20 de abril de 2011

PROPOSTA INDECENTE - POWER TO THE PEOPLE


Ultimamente tenho ouvido desde políticos, comentadores, analistas, especialistas, colunistas, comentadores de bancada a sofistas de balcão de taberna, a opinar sobre toda esta problemática que nos aflige e confesso que a sensação com que fico é que estão todos com um "piquinho a azedo"! Em tom de brincadeira, tenho uma proposta a apresentar.

Então e se fizessemos isto ao contrário! Em vez de andarmos a lutar por manter o máximo de direitos possíveis para todos, passávamos a responsabilidade de tudo isto para cada um de nós isoladamente. A minha teoria é a seguinte:



Quem da 100.000 milhões dá 200.000 milhões! É tudo uma questão de preço!


O Estado retirava todos os benefícios sociais à população, durante os próximos três anos e entregava a cada português €10.000,00 para fazer a sua própria gestão desse dinheiro.

A partir desse momento, o Estado tornava-se superavitário e deixava de precisar dos mercados, criando as condições para que o mesmo pudesse começar a tomar medidas que estimulássem a economia e fomentássem o crescimento. A partir daqui, acabavam-se os problemas da dívida do Estado Português.

A ser assim, cada um de nós garantia antecipadamente o equivalente aos benefícios retirados, pagando um juro muito baixinho, claro, e passava a ser livre de fazer o que quisesse com esse dinheiro, mediante algumas regras, naturalmente, como por exemplo, o pagamento atempado de todos os seus impostos. Assim, criávam-se "mini portugais" em cada português e o Estado passava a comportar-se como uma espécie de FMI interno.

Com o dinheiro que recebia, cada português teria três opções: consomir, poupar ou investir. No final de cada ano, o estado veria o que cada um fez com esse dinheiro e avaliaria o risco, ou seja, a capacidade individual de cada um honrar os seus compromissos. Com isto, cada português passaria a ter o seu próprio "rating". Os portugueses que cumpriram as suas obrigações e que estivessem a gerar valor para si mesmos, passariam a gozar de incentivos que promovessem o seu crescimento. Os que não cumprissem com as suas obrigações, veriam as suas condições revistas/agravadas e passariam a estar sujeitos a restrições na sua despesa.

Ao fim de três anos, fazia-se o balanço e apurava-se o que cada português tinha feito com esse dinheiro.


Quem estivesse falido ou "em default", deixaria de poder votar! 

segunda-feira, 18 de abril de 2011

UP UP AND AWAY!

O Governador do BCE Luc Coene, veio hoje dizer que "...estamos perante o fim do contágio [da crise de dívida soberana europeia], uma vez que os outros países tomaram medidas para se protegerem. Penso que isto é, realmente, o fim da história".

Não sei se é verdade, espero que seja. No entanto, recordo-me "vagamente" do seu antecessor ter dito em tempos, que a Grécia seria o único país da UE a necessitar de resgate. Acho que estes senhores ainda não perceberam que o que está verdadeiramente a ser posto à prova não são as contas dos países membros, mas sim a moeda única e o próprio modelo da União Europeia.

Contrariamente ao Luc, temo que possamos estar somente a meio do livro e que esta história terá ainda mais capítulos do que certamente todos desejaríamos.   

Curiosamente, da reunião de hoje entre o Banco Mundial e o FMI, saiu a conclusão de que podemos estar à beira de uma iminente crise mundial, impulsionada pelo custo das matérias primas.

Eu sugiro o seguinte:

Ladies and Gentleman, please keep your seat belts fastened during take off and landing!

sexta-feira, 15 de abril de 2011

PARA MAIS TARDE RECORDAR E SE POSSÍVEL NÃO REPETIR!

O que podemos esperar e o que nos vai acontecer, agora que garantimos a ajuda externa?

Como todos sabem, o que o FMI faz quando intervém num país é provocar uma recessão, no nosso caso agravar a existente. Normalmente, utiliza a moeda e a taxa de juro como instrumentos fundamentais. Acontece que neste caso não tem, nem um, nem outro para brincar. Portanto, as medidas impostas centrar-se-ão nos custos e receitas do Estado.

Em primeiro lugar, os principais partidos vão chegar todos a acordo sobre uma espécie de PEC 4 + 1 a implementar, para que seja possível começar a receber os primeiros financiamentos. Portugal aumentará a sua dívida em 80 mil milhões de euros e ficará a pagar uma taxa de juro sobre esse valor próxima dos 6%, mais do que estava a pagar quando ia ao mercado a 5 anos, antes da rejeição do PEC 4.

As medidas a aplicar, todas elas contraccionistas, claro, provocarão uma estagnação económica e provocarão uma recessão que se instalará para ficar, durante uns bons anos. Tudo isto será sustentado por um custo social pesadíssimo, provocado pela implementação de medidas imediatas e transversais que deveriam ser faseadas no tempo.

O Estado será obrigado a congelar tudo o que é investimento público de grande porte. Começará a alienar tudo o que for empresa Estatal, reduzindo a intervenção do Estado na economia ao mínimo possível, colocando esse interesses nas mãos dos de sempre, tornando tudo isto muito mais caro para todos, deixando cair definitivamente o conceito da maximização do benefício social e pondo o povo a pagar aos novos accionistas os lucros que essas empresas vão passar a apresentar.

O desemprego aumentará para perto dos níveis espanhóis, o salário mínimo irá ser reduzido, os despedimentos ficarão mais fáceis e mais baratos e as pensões na melhor as hipóteses serão congeladas, no entanto prevejo que possam ser sujeitas a cortes nos escalões mais altos. Os impostos irão aumentar, tornando tudo mais caro enquanto ficamos com menos para gastar. O tecido empresarial, composto na sua larga maioria por PME´s, sofrerá mazelas que deixarão marcas irreversíveis e com isso agravará todos os efeitos anteriores.

Paralelamente, os bancos vão ser obrigados a aumentar os seus rácios de liquidez, não vão ter capacidade para o fazer sozinhos e portanto, vão pedir dinheiro emprestado ao Estado. As agências de rating vão aproveitar este facto para rever em baixa os ratings desses bancos. Consequentemente, pelos compromissos estabelecidos com os bancos e aliado ao facto da economia começar a decrescer, baixarão o rating de Portugal mais 2 ou 3 níveis. Com isso, todos terão mais dificuldade em se financiar, comprovando este espiral infernal, de onde parecemos não conseguir sair.


Portanto, o consumo irá cair, o investimento irá cair, os gastos do Estado irão cair e portanto o nosso PIB andará pelas ruas da amargura.

Ironicamente e em jeito de perfeita aberração económica, tudo isto se passará enquanto assistimos aos aumentos da inflação e das taxas de juro de referência!!!! Enfim...
Não posso deixar de aproveitar esta oportunidade para agradecer a todos os que colaboraram para tornar tudo isto possível!

Como nota positiva, resta-me o consolo de saber que, por um lado Portugal não deixará de existir e que tudo isto será história daqui a uns anos e por outro que, não acabando Portugal, não acabará o meu Benfica!

quinta-feira, 14 de abril de 2011

WHO'S LINE IS IT ANYWAY?

Há muito que digo que esta crise não é um problema Português. Independentemente de terem sido cometidos alguns erros no passado e de haver hoje a necessidade de implementar diversas medidas, nos mais diversos sectores da nossa sociedade, a grande verdade é que mesmo implementando todas elas, corremos o sério risco de não ver o nosso problema resolvido. Mas e que problema é esse? Essa é a pergunta que vale um milhão de dollares. Andamos a atacar o verdadeiro problema, ou as consequências do mesmo? 

Publico aqui um artigo do New York Times, a meu ver brilhante, e com o qual concordo em absoluto. Recomendo vivamente a sua leitura. Para mim foi uma verdadeira golfada de ar fresco!


João Fazenda


Portugal’s Unnecessary Bailout

By ROBERT M. FISHMAN
Published: April 12, 2011
·          PORTUGAL’S plea for help with its debts from the International Monetary Fund and the European Union last week should be a warning to democracies everywhere.
The crisis that began with the bailouts of Greece and Ireland last year has taken an ugly turn. However, this third national request for a bailout is not really about debt. Portugal had strong economic performance in the 1990s and was managing its recovery from the global recession better than several other countries in Europe, but it has come under unfair and arbitrary pressure from bond traders, speculators and credit rating analysts who, for short-sighted or ideological reasons, have now managed to drive out one democratically elected administration and potentially tie the hands of the next one.
If left unregulated, these market forces threaten to eclipse the capacity of democratic governments — perhaps even America’s — to make their own choices about taxes and spending.
Portugal’s difficulties admittedly resemble those of Greece and Ireland: for all three countries, adoption of the euro a decade ago meant they had to cede control over their monetary policy, and a sudden increase in the risk premiums that bond markets assigned to their sovereign debt was the immediate trigger for the bailout requests.
But in Greece and Ireland the verdict of the markets reflected deep and easily identifiable economic problems. Portugal’s crisis is thoroughly different; there was not a genuine underlying crisis. The economic institutions and policies in Portugal that some financial analysts see as hopelessly flawed had achieved notable successes before this Iberian nation of 10 million was subjected to successive waves of attack by bond traders.
Market contagion and rating downgrades, starting when the magnitude of Greece’s difficulties surfaced in early 2010, have become a self-fulfilling prophecy: by raising Portugal’s borrowing costs to unsustainable levels, the rating agencies forced it to seek a bailout. The bailout has empowered those “rescuing” Portugal to push for unpopular austerity policies affecting recipients of student loans, retirement pensions, poverty relief and public salaries of all kinds.
The crisis is not of Portugal’s doing. Its accumulated debt is well below the level of nations like Italy that have not been subject to such devastating assessments. Its budget deficit is lower than that of several other European countries and has been falling quickly as a result of government efforts.
And what of the country’s growth prospects, which analysts conventionally assume to be dismal? In the first quarter of 2010, before markets pushed the interest rates on Portuguese bonds upward, the country had one of the best rates of economic recovery in the European Union. On a number of measures — industrial orders, entrepreneurial innovation, high-school achievement and export growth — Portugal has matched or even outpaced its neighbors in Southern and even Western Europe.
Why, then, has Portugal’s debt been downgraded and its economy pushed to the brink? There are two possible explanations. One is ideological skepticism of Portugal’s mixed-economy model, with its publicly supported loans to small businesses, alongside a few big state-owned companies and a robust welfare state. Market fundamentalists detest the Keynesian-style interventions in areas from Portugal’s housing policy — which averted a bubble and preserved the availability of low-cost urban rentals — to its income assistance for the poor.
A lack of historical perspective is another explanation. Portuguese living standards increased greatly in the 25 years after the democratic revolution of April 1974. In the 1990s labor productivity increased rapidly, private enterprises deepened capital investment with help from the government, and parties from both the center-right and center-left supported increases in social spending. By the century’s end the country had one of Europe’s lowest unemployment rates.
In fairness, the optimism of the 1990s gave rise to economic imbalances and excessive spending; skeptics of Portugal’s economic health point to its relative stagnation from 2000 to 2006. Even so, by the onset of the global financial crisis in 2007, the economy was again growing and joblessness was falling. The recession ended that recovery, but growth resumed in the second quarter of 2009, earlier than in other countries.
Domestic politics are not to blame. Prime Minister José Sócrates and the governing Socialists moved to cut the deficit while promoting competitiveness and maintaining social spending; the opposition insisted it could do better and forced out Mr. Sócrates this month, setting the stage for new elections in June. This is the stuff of normal politics, not a sign of disarray or incompetence as some critics of Portugal have portrayed it.
Could Europe have averted this bailout? The European Central Bank could have bought Portuguese bonds aggressively and headed off the latest panic. Regulation by the European Union and the United States of the process used by credit rating agencies to assess the creditworthiness of a country’s debt is also essential. By distorting market perceptions of Portugal’s stability, the rating agencies — whose role in fostering the subprime mortgage crisis in the United States has been amply documented — have undermined both its economic recovery and its political freedom.
In Portugal’s fate there lies a clear warning for other countries, the United States included. Portugal’s 1974 revolution inaugurated a wave of democratization that swept the globe. It is quite possible that 2011 will mark the start of a wave of encroachment on democracy by unregulated markets, with Spain, Italy or Belgium as the next potential victims.
Americans wouldn’t much like it if international institutions tried to tell New York City, or any other American municipality, to jettison rent-control laws. But that is precisely the sort of interference now befalling Portugal — just as it has Ireland and Greece, though they bore more responsibility for their fate.
Only elected governments and their leaders can ensure that this crisis does not end up undermining democratic processes. So far they seem to have left everything up to the vagaries of bond markets and rating agencies.

Robert M. Fishman, a professor of sociology at the University of Notre Dame, is the co-editor of “The Year of the Euro: The Cultural, Social and Political Import of Europe’s Common Currency.”